terça-feira, 26 de maio de 2015

Uma greve de mais de 30 dias em Novo Hamburgo

Quando escolhi ser professora, no auge das greves do magistério estadual no RS, dizia que jamais faria uma greve, pois não concordava como elas aconteciam, enfim, escutava na televisão barbaridades que para mim eram inconcebíveis. Passados 24 anos desta minha escolha e exercício de profissão, pela primeira vez, me rendi à greve. E como aprendi e estou aprendendo com ela. Por que me rendi? Aderi a greve, porque cansei de trabalhar em escolas, que a rede elétrica não suporta ventiladores e, quando tem ar condicionado, se ligados em todas as salas, pois os disjuntores caem. Cansei de chegar no laboratório de informática educativa, ter que bater os mouses e teclados, pois os cupins invadiram as máquinas, ou pior que choveu e como o forro da sala está cedendo, molhou seis máquinas e nos próximos dias tenho que secá-las para trabalharem meia boca. Cansei de fazer de conta que se dá aula, quando 40 min das 4 horas-aula, são para alimentação (lanche e almoço), pois na maioria das escolas não tem refeitórios e o almoço acontece durante o período de aula. Cansei de chegar na escola e ver a sala dos professores, os corredores alagados, quando chove. Cansei de comprar material para meus alunos, pois a escola não possui todos recursos financeiros que deveriam estar sendo geridos pela escola são pré- determinados por uma secretaria que não sabe gerir nem seu quadro de funcionários. Cansei de ter que ter três funções na escola, pois a secretaria de educação deseja enxugar o quadro e é claro, não poder me dedicar o quanto me cobro, para nenhuma das funções. Cansei de receber o mínimo do mínimo depois de ter realizado um graduação e cinco especializações na área de educação. Será que não mereço ganhar bem, ou pelo menos dignamente para uma pessoa que estudou e estuda como eu? Será que não mereço pelo menos respeito por ter escolhido e ter seguido a carreira do magistério. Por isso, e quando li a seguir a citação, resolvi aderir a greve: “§2435 A greve é moralmente legítima quando se apresenta como um recurso inevitável, e mesmo necessário, em vista de um benefício proporcionado. Torna-se moralmente inaceitável quando é acompanhada de violências ou ainda quando se lhe atribuem objetivos não diretamente ligados às condições de trabalho ou contrários ao bem comum. (Leão XIII na Rerum Novarum)
Aprendi na Greve, que se luta pelos mesmos ideais e que neste município têm excelentes professores escondidos, pois a administração não os valoriza, pois não tem a mesma ideologia política. Aprendi que uma greve cansamos muito. Andamos muito, passamos fome, frio, calor e uma enorme exaustão. Aprendi que o professor, até na greve é movido pelo amor pela educação. Em cada grupinho que conversei, todos falavam de seus alunos, das suas preocupações com as aprendizagens de como fariam para recuperar o aprendizado desses dias parados, de como farão para não serem chato e cansativos, sempre pensando no aluno. Aprendi que é por causa do comodismo de alguns, que o mundo não melhora. Pois pessoas bem-intencionadas, que não são egoístas lutam com amor por suas causas. Aprendi que numa greve, bem organizada, não há baderna, não há escândalos, não há cinismo entre os participantes. Aprendi que é nesses momentos que aparecem os Salvadores da Pátria, no nosso caso, alguns vereadores, que nem sabem o que é uma escola, o que é educação vestem uma “uma super camiseta”, pela educação e que temos que estar atentos a essas situações, pois na greve também é lugar de politicagem barata e falsa. Aprendi a conviver com algumas pessoas bem especiais, que só as pude conhecer nesse momento, e isso, Agradeço a Deus. Conheci muitos colegas da rede, que até então só
nos cumprimentávamos, pois, a sociedade calculista, nunca permitiu que tivéssemos um tempo para conversar, saber das habilidades de cada um, dos ensejos de cada um, das preocupações... enfim saber mais do outro. O movimento da Greve foi o melhor Fórum de Educação que já participei nesta cidade, pois trocamos experiências, vividas de verdade, sem enfeites... saímos do mundinho encantado imaginado na cabeça de tão poucos. Os professores sempre tão criativos, criaram paródias inesquecíveis, bonecos, malas, roupas que marcarão para sempre nossas lembranças. Aprendi que o professor é solidário, e aqui, deixo marcado meu grande apreço a professora aposentada Maria Cecília Brum, que nunca deixou faltar café, chazinho e às vezes até bolacha. Além dela, sempre tinha uma cuia de chimarrão para compartilhar, uma térmica para emprestar, uma cadeira para ceder por um tempo. Ou um delicioso café na casa de uma colega mais que especial. A jaqueta emprestada para esquentar, do marido da colega, ou um gole de água para acudir uma colega que passava mal... Aprendi que quando tirávamos foto sorrindo, era para não deixar “a peteca cair”, mas estávamos, às vezes muito indignados, bravos, cansados, chateados; mas mesmo assim, sorriamos. Aprendi que o jornalismo é um grande aliado, mas que os canais de comunicação corruptos deixam sempre a sociedade a mercê da verdade. No nosso caso o jornal NH e a RBS TV, sempre omitiram a verdade, ou distorceram a mesma. Aprendi que não é só de vitórias que se vive, mas de árduas lutas, que ainda estão por vir. Aprendi que nenhum outro governo, nesta cidade, poderá maltratar o servidor, pois viu que estes não se acovardam, mesmo com batalhão de choque na porta da Câmara Municipal, uma vergonha para nossa cidade. O remédio, portanto, mais eficaz e salutar é prevenir o mal com diálogo e com a legalidade para impedir a explosão, removendo a tempo as causas de que se prevê que não deixar nascer os conflitos. Não quero mais ter que fazer greve, mas para isso continuarei exigindo respeito e dignidade. Respeito do governo, respeito da comunidade, da direção da escola, dos colegas que pensam contrário do que a maioria pensa, pois vivemos num País Democrático e com inúmeras diversidades e há estas temos que saber respeitar. O momento é de retomar O RESPEITO + DIGNIDADE + TRABALHO CONSCIÊNTE = CIDADANIA. Mas não basta para ser livre, ser forte aguerrido e forte, Povo que não tem virtudes acaba por ser escravo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário